mercredi 16 octobre 2019


Carta de amor cannibale 1

Pedro,

À l’heure de midi, j’apprends la lumière.
Je veux être comme le printemps, posséder  son souffle ivre d’abeilles et démultiplier nos vies. J’écoute ta voix inonder de chaudes paroles le cheminement de mes pas.
Reviens, donc.
Entends ma chanson au bord du fleuve 
et deviens un pas de plus à glisser dans nos jours. Je veux fleurir ta bouche de baisers, être un insecte tremblant ses ailes à l’instant de sa mort. Je t’ai mangé le cœur pour ne pas te quitter, pour être dans son battement secret. Je goûte à la peu fine de tes paupières, 
mon doigt plonge dans le creux de ta poitrine et je suis comblée par ce vide.
Adieu, je mange ma main pour te priver de mon ultime caresse.

Inez Mars 2015 Paris







Inez na floresta .
(fogo) 2019


A morte chama a morte

A Inez, é um fantasma menor neste épico combate pelo nome inscrito na História. Coroada de luz, é amada , louvada depois de morta. Desenterrada e proclamada rainha em corpo já corrompido, será exposta à corte velada e escura. Pedro vai arrancá-la à terra, num acto violador do eterno sono. Esta profanação é a prova da sua culpabilidade. Enquanto viva, Inez, amante do infante, mãe de três filhos, foi considerada uma ameaça política e não como sua esposa e Rainha.

Inez caiu na morte!
Poetas e escritore.as, no encanto de lhe pudermos literariamente mudar-lhe o destino, continuamos exaltando a decisão amorosa do gesto « Face à Face Até ao Fim do Mundo « . Sabemos que foi só bem mais tarde que estes amantes se fizeram face, uns passos mais e se tocam nas pedras. Mas assim ficaram os amantes desunidos. Esse espaço entre eles é insuperável e tenho  recados a escrever nele, pedras e mármores a escutar.
Não me culpem a mim de ler entre as linhas que os homens escrevem, de gostar de remendar o tapete. A minha proposta artística é de querer emendar 
o lirismo e de bordar a fio vermelho, umas questões de justiça.
Moldados os destinos nesta história de paixão amorosa e de crime, o mito encenou-lhes um possível final de ressurgimento e perdão.
Então, assim seja.


lidia martinez, julho 2019.













salvo conduto, braga, setembro 2019.

O quarto da Pinóquia______________ 2 ACTO :                    



                                        «  Mão que bate à porta « 


Quando os mortos riem é bom sinal, quer dizer que estão a melhorar.  Este riso parece um grito branco de um pavão ,  a voz de uma deusa a operar na madeira. P I N O Q U I A, neste meu pequeno corpo cabe o medo do escuro e a trovoada. Nesses dias de calor intenso, de nevoeiro na janela, daquele bafo quente na boca esguia de um cão a arfar, a arfar, sedento. Este cheiro cheiro matinal de pão, lenha, suor, água suja, flores pesadas, velas intensas, cansaços prematuros.
Mão de mãe, ensina-me o princípio da vida.
(...) LM, 2014